domingo, 28 de outubro de 2007

entranhas cinematográficas ( e ideológicas ) de Tropa de Elite (3)


Full Metal Jacket - "Nascido para Matar", de Stanley Kubrick (1987)



Não sou dos maiores fãs do Kubrick, tampouco deste filme. Mas há de convir que há uma profunda semelhança entre o treinamento dos recrutas no filme de Kubrick e o dos "caveiras" de Padilha. Num e noutro, assistimos a cenas brutais, sádicas, um ritual extenuante através do qual o homem se transforma numa besta letal. Tanto em Full Metal Jacket quanto em TE há cenas engraçadas, sendo que a aula de "estratégia" de TE, em que o capitão Nascimento dá uma granada engatilhada para um sonolento aspira Matias segurar, enquanto segue com sua monotona peroração acerca das diferentes versões da palavra "estratégia", é , disparado, uma das sequências mais engraçadas que o cinema já produziu. As cenas são muito parecidas.
Mas ser parecido não quer dizer necessariamente ser igual. É aí que reside a grande diferença entre forma e conteúdo.
A semelhança formal das sequências são enormes, até mesmo no tom visivelmente "exagerado", que provoca risos. Quando analisamos o discurso dos filmes, a distância que surge entre um e outro é abissal. Quase antagônicas.

A diferença entre um e outro filmes é o ponto de vista do diretor - enquanto que Kubrick tem um evidente propósito em mostrar como o homem pode ser desumanizado e tornar-se uma eficaz e disciplinada máquina de matar, dando uma aula sobre o processo de alienação ( e o tom propositalmente caricatural das cenas remete ao distanciamento brechtiano ), em Tropa de Elite o que vemos é um processo de depuração. O treinamento é bruto, não para desumanizar seus participantes, mas para eliminar o mal inflitrado - os corruptos. A brutalidade dos exercícios é uma forma de desestimular que recrutas covardes, preguiçosos e, principalmente, os corruptos consigam penetrar no impoluto corpo de "caveiras".
Neste sentido a humilhação que sofre o capitão Fábio, o tíbio PM envolvido com prostituição e bicheiros, é exemplar: todos sabemos que ele é covarde, preguiçoso e principalmente, corrupto. Típico estereótipo do policial. O que vemos é que na Tropa de Elite não há lugar para tipos assim. E as cenas em que Fábio é achincalhado pelo Capitão Nascimento são sempre bem humoradas. Moral do filme: é assim que se deve tratar os maus policiais. Não é isso que a sociedade quer? Uma polícia honesta, séria, que cumpra seu necessário trabalho? Sem corruptos, sem moleirões, sem covardes e velhacos?


Neste sentido, é inóqua a crítica que o colunista do Globo Arthur Xexéu faz ao filme, ao mencionar o comentário sobre um "aspirante a caveira" que ficou surdo pelo rigoroso treinamento aplicado pelo capitão Nascimento. Vendo, depois, a tentativa do covardão e corrupto capitão Fábio em ingressar na Tropa incorruptível, conseguimos "ver" o que deve ter acontecido com o citado aspirante que ficou surdo. E como Nascimento alerta que "ele era safado", entendemos que ele teve o castigo merecido.


Sobram do treinamento apenas os bons, os mais fortes, os incorruptíveis. Como toda depuração é uma purificação, entendemos que os que sobrevivem para tornar-se "caveiras" são uma espécie de "eleitos", no sentido religioso mesmo da palavra. São imunes à dor, às privações, às tentações. Os "caveiras", antes de máquinas desumanas treinadas para matar, são uma espécie de "cruzados", homens superiores, acima do bem e do mal.


E o conceito de "homens acima do bem e do mal, acima do conceito de classes, disciplinadores da sociedade e mantenedores da ordem" não é exatamente um dos princípios do fascismo?

2 comentários:

Izabel Xarru disse...

isso.
isso!
mas o viável e inteligente agir não tem cabimento por aqui.

Anônimo disse...

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