segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Veja esta canção (3)
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Beijo de despedida
sábado, 6 de dezembro de 2008
Let´s dance!
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Auxílio Luxuoso
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Veja essa canção (2)
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
domingo, 12 de outubro de 2008
Momento poético em tempos de dureza (7)
Que só tem o sol que a todos cobre
Como podes, mangueira, cantar?
Pois então saiba que não desejamos mais nada
A noite, a lua prateada
Silenciosa, ouve as nossas canções
Tem lá no alto um cruzeiro
Onde fazemos nossas orações
E temos orgulho de ser os primeiros campeões
Eu digo e afirmo que a felicidade aqui mora
E as outras escolas até choram
Invejando a tua posição
Minha mangueira essa sala de recepção
Aqui se abraça inimigo
Como se fosse irmão
(Cartola - Sala de recepção )
sábado, 11 de outubro de 2008
Parabéns!
sábado, 27 de setembro de 2008
Ver e Ouvir (4)
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
domingo, 21 de setembro de 2008
sexta-feira, 19 de setembro de 2008
Não fui eu quem disse, mas O Bonequinho de O Globo
Amizade é a essência estética do cinema de Carvana. O entendimento do ônus afetivo que a palavra “amigo” carrega é o esqueleto de seus filmes, subestimados nestes tempos em que lealdade virou artigo escasso. “Bar Esperança” (1982), que entra fácil em qualquer lista de filmes nacionais antológicos, já deixava claro esse traço investigativo da obra que Carvana vem depurando no diálogo com subgêneros do humor. Se “Apolônio Brasil” (2003) flertava com a chanchada ingênua dos anos 1950, “A casa...” revisita a comédia erótica da década de 1970.
Num humor malcomportado, a saga de como Montanha, PR e Juca resistem ao golpe dado pelo “171” Vavá (o Buster Keaton chamado Pedro Cardoso) retoma um cinema sensualmente abusado, na linha de “Amici miei — Meus caros amigos”, de Mario Monicelli. É um riso cru, indigesto para estômagos talhados a caviar cinéfilo, mas apetitoso para quem não teme prazeres. E que prazer dão Juliana Paes e Fernanda de Freitas:
(Rodrigo Fonseca, Revista Rio Show, O Globo, 19/09/2008 )
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Grandes personagens da (minha) história (3)
Sempre fui fã do Carvana. Era moleque e admirava seus trabalhos, fosse em cinema ou na televisão. Durante minha adolescência acompanhava um seriado que ele fazia na TV Globo, Plantão de Polícia. Ele interpretava Valdomiro Pena, jornalista veterano, boêmio, cínico, debochado porém, íntegro e humanista. Esse seriado, escrito por gente como Leopoldo Serran, Aguinaldo Silva ( àquela época um bom roteirista, ainda não tinha virado o noveleiro de sucesso de hoje, menos deslumbrado consigo mesmo e mais atento à qualidade de suas histórias ) e Doc Comparato, é das boas coisas que vi na televisão brasileira, muito superior ao que é feito hoje.
domingo, 14 de setembro de 2008
Veja essa canção (1)
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Ver e Ouvir (3)
domingo, 7 de setembro de 2008
Coisas que eu gosto (de ver) 8:
Os vivos e os mortos (1987), de John Huston
Os vivos e os mortos
sábado, 6 de setembro de 2008
Deus e o diabo na terra do rock...
A volta dos que não foram
segunda-feira, 5 de maio de 2008
segunda-feira, 28 de abril de 2008
domingo, 27 de abril de 2008
Dicas
domingo, 30 de março de 2008
sábado, 29 de março de 2008
Agravo/Desagravo
Dos seus filmes gosto de Terra em Transe, na minha opinião um dos melhores filmes já realizados em todos os tempos, Deus e o diabo na terra do sol, Dragão da maldade contra o santo guerreiro ( apesar de achar que envelheceu mais rápido que os anteriores ) e do curta Di, pequena obra prima, um grande filme de curta duração. Barravento e Cabezas cortadas têm seus méritos, apesar de não falarem muito ao meu coração . Não gosto muito dos demais e acho mesmo alguns insuportáveis ( Das Leone have sept cabezas e Claro são osso duro de roer... ). Mas mesmo seus filmes menos interessantes ou mesmo desinteressantes possuem elementos que despertam minha curiosidade cinematográfica, tem sempre algo que chama atenção - Glauber é, queiram ou não seus detratores, um dos artistas brasileiros mais importantes e influentes de todos os tempos. Não me enquadro portanto no grupo de "viúvas" do Glauber, que veneram cada fotograma do cineasta como se fosse um relicário sagrado.
Agora, maior que meu apreço pelo Glauber é meu desapreço por essa figura abjeta chamada Marcelo Madureira. Esse sujeito combina desarmoniosamente sua repugnante figura com sua boçalidade. Como humorista, já teve seus tempos de glória e hoje parece marchar inexoravelmente para fazer quadros no Zorra Total - com a diferença que os comediantes daquele programa, Paulo Silvino, Agildo Ribeiro, Lúcio Mauro entre outros, independente do estilo de humor que pratiquem, bons comediantes, enquanto que o "casseta" não passa de sujeito sem graça, medíocre, que pratica o pior tipo de humor, com seus trocadilhos fáceis, seu homofobismo e sexismo, sua escatologia, seu preconceito social e seu reacionarismo político disfarçado em anarquismo. Em suma, no máximo seria um tipo contando piadas de salão no fundo de um bar "pé sujo" não tivesse parasitado o carisma do Bussunda, este sim, um bufão nato ( é só perceber como o Casseta e Planeta decaiu, depois da morte do palhaço gordo).
Mas se como comediante Madureira é sofrível, mais deploráveis são suas intervenções sérias. O "intelequitual" Madureira é um repetidor de factóides, falastrão sem nenhum embasamento ou qualquer idéia original. Chamado para participar de um debate sobre cinema num evento promovido pela revista Piauí ( quem teria sido o gênio que teve a brilhante idéia? ), saiu alardeando velhos preconceitos contra o cinema brasileiro, com uma originalidade de leitor da Veja. Na falta de argumentos com algum conteúdo, partiu para a grosseria, para a provocação, ganhando assim alguma notoriedade: "Glauber Rocha é uma merda", foi a coisa mais relevante que seu raciocínio tatibitate conseguiu elaborar. Lançou o factóide, ganhou algumas páginas no Globo ( jornal onde trabalha, registre-se, afinal é o redator da coluna do Agamenon Mendes Pedreira ) e correu para a galera. Deve estar se sentindo o máximo. Afinal, para um pseudo-artista cuja indigência intelectual só consegue superar a ignorância atávica dos BBBs, deve ser reconfortante ser assunto de discussão na mídia. Uma vez que o Casseta e Planeta não repercute mais como nos tempos do Bussunda, é preciso apelar para chamar um pouco de atenção.
Que Madureira não curta o Glauber e expresse sua opinião sobre o cineasta de forma tão sofisticada, é direito dele. Gosto é uma coisa pessoal, e o Madureira tem direito de gostar ou desgostar do que bem quiser. Me incomodou mais as patranhas que ele proferiu no tal debate da Piauí ( "o cinema brasileiro era uma droga", "cineasta brasileiro é tudo ladrão", frases muito similares àquelas difundidas à época do Collor, Ipojuca Ponte et caterva, quando acabaram com a Embrafilme, causando a maior crise da história do nosso cinema ) do que sua opinião pessoal contra o Glauber. E me incomodou ainda mais que ninguém, absolutamente ninguém na platéia, basicamente composta por estudantes de cinema, cinéfilos, intelectuais, etc, gente "bem nascida" e "bem informada", como suponho serem os leitores da Piauí, tenha manifestado qualquer reação à frase destemperada do Madureira. Me incomoda que o cineasta, perdão, o documentarista ( é ele que faz questão de frisar a diferença, não eu ) João Moreira Salles, ao lado de Madureira na mesa, não tenha tido sequer a gentileza de dizer que a opinião de Madureira não era partilhada por boa parte dos presentes. Me pergunto se a Piauí endossa a opinião do Madureira. Sobre Glauber e sobre o cinema brasileiro, em geral.
Dias depois, artistas e cineastas resolveram fazer um ato de desagravo a Glauber, exibindo Deus e o Diabo na terra do Sol, na reabertura do cineclube da ABI ( antigo templo de vivência cinematográfica nos anos cinzentos da ditadura, e que foi o responsável pela formação de toda uma geração de cinéfilos e cineastas, eu incluído ). Acho que a melhor resposta às provocações do "intelequitual" Madureira é mesmo essa: exibir os bons filmes do Glauber. Haverá os que gostarão, da mesma forma que haverá quem não goste ou, mesmo, quem ache uma merda. Só espero que não passem Claro nem O Leão das Sete Cabeças, porque aí a coisa degringola...
Da minha parte, faço aqui meu desagravo, usando um trecho de Deus e Diabo que considero, junto com a morte da cachorra Baleia em Vidas Secas ( do Nelson ), uma das mais fortes e belas sequencias do cinema novo ( e do cinema brasileiro, como um todo). O beijo entre Corisco e Rosa, com uma Yoná Magalhães linda, novinha e um Othon Bastos exuberante, embalados pela belíssima Bachiana Brasileira #2, de Villa-Lobos. Talvez o mais belo beijo da história do cinema.
quinta-feira, 27 de março de 2008
coisas que eu gosto (de ver) 7:
Vida de cigano, de Emir Kusturica (1989).
Terceiro longa-metragem do diretor ( o primeiro "Quem se lembra de Dolly Bell?" não foi lançado e o segundo, o espetacular Quando papai saiu em viagem de negócios fez muito sucesso aqui, ao ponto de ser "citado" no belo filme de Cao Hamburger, "o ano em que meus pais sairam de férias"), estabelece os elementos dramatúrgicos e estéticos do cinema de Kusturica, a saber, o equilíbrio entre a comédia rasgada e o melodrama, o surrealismo, o kitsch, a extrema musicalidade, o humor negro, o erotismo, a riqueza visual de seus planos, o sentimentalismo, o patético, o lirismo, o fabulismo de suas narrativas, a estranha e harmônica convivência de humanos com animais, as estranhas relações entre pais e filhos, sempre conflituosas e ao mesmo tempo, amorosas ao extremo, o enforcamento ( essa característica é quase um fetiche: em todo filme de Kusturica há uma tentativa bem ou mal sucedida de enforcamento por parte de um de seus personagens ), as festas - geralmente bodas - que se tornam cenários de batalhas, as gags circenses, a índole infantil de seus protagonistas, a celebração da morte.
Algumas dessas características são próprias da cultura eslava, da qual Kusturica, ex-iugoslavo, de origem sérvia, nascido e criado em Sarajevo, na Bósnia, é sem dúvida um dos maiores divulgadores ( tanto em seu trabalho como cineasta, quanto na sua produção como músico, com sua banda The No Smoking Orchestra ).
Há evidentes influências de Buñuel e Fellini em sua obra, da mesma forma que é evidente o seu apreço pelas comédias malucas do cinema mudo, particularmente, de Mack Sennet e mesmo Chaplin, dos primeiros filmes.
Todavia, em Vida de Cigano há uma nítida aproximação com um dos clássicos do neo-realismo, Milagre em Milão ( onde aliás, se passa boa parte da história ), de Vittório de Sica e Zavattini. Há uma grande semelhança entre os mendigos e desafortunados do filme de de Sica e os ciganos de Kusturica. E também um jeito de filmar que desglamouriza cenários, atores, a própria ação, que remete à estética do neorealismo, em particular a Milagre de Milão, que seria (digamos ) uma incursão do neorealismo num ambiente mágico das fábulas.
E se podemos entender Milagre em Milão como uma possível ruptura de de Sica ( e mesmo Zavattini ) aos cânones do neo-realismo, com sua proposta de fábula não-realista, Vida de Cigano é uma ruptura ao tom ainda realista presente em Quando papai saiu de viagem à negócios e um mergulho radical numa narrativa mais mágica, surrealista, onírica, fincada no fabulismo dos contos populares.
É da estrutura dos contos populares que Kusturica vai extrair seus elementos dramatúrgicos, seus personagens, a estrutura moral da história, a musicalidade e a magia da trama. Os rompantes de comédia pastelão e os momentos sentimentais, trágicos, até, do bom melodrama são também frutos dessa absorção do elemento popular que caracteriza as narrativas de Kusturica. Podemos dizer que, em princípio, Vida de Cigano é uma comédia dramática, como igualmente comédias dramáticas são Quando Papai saiu em viagem de negócios, Arizona Dream ( única incursão de Kusturica no cinema americano, com Johnny Deep, Jerry Lewis, Faye Danaway e Lili Taylor, pessoalmente o filme de Kusturica que gosto menos ), Underground e mais declaradamente cômicas Gato Preto, Gato Branco e A vida é um milagre. Digo em princípio porque, à excessão desses dois últimos, poderíamos definir igualmente os filmes de Kusturica como dramas com laivos de humor.
Em geral, as histórias que Kusturica conta parecem mais enredos de dramas: o pai de família que é delatado pela amante desprezada e que é enviado para um campo de trabalhos forçados, na Iugoslávia de Tito ( Quando papai etc ), um grupo de partizans que é se escondem dos nazistas no porão da casa de um compatriota que posteriormente decide mantê-los presos e trabalhando a seu favor, mentindo sobre o término da guerra (Underground ), surgimento de uma máfia que se estabelece no vácuo do fim do regime comunista (Gato preto, gato branco ),a guerra civil que pulverizou a Iugoslávia, despertando ódios étnicos entre sérvios, bósnios, croatas, kosovares ( A vida é um milagre ). Temas que não parecem mais adequados para provocar o riso. Mas da mesma forma que Kusturica faz piada com as tentativas de enforcamento de seus personagens ( a mais dramática ou patética em Quando papai saiu de viagem à negócios, a mais engraçada, sem duvida, a tentativa de Lily Taylor se suicidar com suas meiacalças, em Arizona Dream ), ele consegue extrair humor e poesia destes enredos "pesados". Em Vida de cigano, a miséria e a mercantilização da pobreza, em paralelo com o processo de corrupção do protagonista, é o assunto pesado em que Kusturica vai exercitar sua habilidosa capacidade de provocar risos e emocionar com um lirismo mágico, pungente.
Numa aldeia de ciganos, o jovem Perhan (Davor Dujmovic ) vive com sua avó Khaditza ( Ljubica Adzovic ), sua irmã caçula Danira, que tem um pequeno defeito numa das pernas e o tio fracassado Merdzan. Perhan possui poderes telecinéticos ( é uma espécie de Ury Geller - lembram-se dele? - capaz de mover talheres e outros objetos metálicos ), tem como melhor amigo um peru e é apaixonado pela jovem Azra, mas a família da moça o rejeita por ser pobre. O infortúnio amoroso será motivo para uma tentativa fracassada de suicídio de Perhan por enforcamento. A vida do rapaz muda com a chegada de tio Ahmed (Bora Todorovic ), irmão de Merdzan e ao contrário, rico e bem sucedido. Ahmed fica encantado com os poderes telecinéticos do rapaz e decide levá-lo com ele para a Itália, onde poderá ganhar muito dinheiro. O rapaz recusa-se, pois teria que separar-se da avó, do peru e de Azra ( nesta ordem de afeto ). Num jogo de cartas, Merdzan perde a casa para Ahmed, que propõe trocar a dívida pela tutela dos dois sobrinhos. Diante do problema, Khaditza arma um estratagema: propõe que Perhan siga com o tio para levar a irmã para ser operada, e assim, Perhan e Danira seguem com Ahmed para Milão. Lá descobrem que o tio na verdade é líder de uma gangue de ciganos, envolvido com todo tipo de contravenção, e que não tem escrúpulos em colocar Danira para esmolar nas ruas e forçar Perhan a usar seus poderes em roubos. A vida dos dois irmãos se torna um inferno digno das melhores narrativas de Charles Dickens ( há muito do judeu Fagin de Oliver Twist no inescrupuloso porém divertido Ahmed ). Boa parte desse momento da trama se passa aos pés da bela catedral de Milão ( por sinal, onde se passa também boa parte da ação de Milagre em Milão ).
Após muitos infortúnios e humilhações, a sorte de Perhan muda. Um derrame irá abater Ahmed e tornar Perhan em seu sucessor, no comando da gangue. Corrompido pelo dinheiro, Perhan irá paulatinamente a afastar-se de seus ideais de juventude e enveredar na decadência moral, afastando-se da avó, da irmã e mesmo, repudiando Azra, com quem acaba casando ( agora que fica rico, é plenamente aceito pela família dela ). O jovem Perhan torna-se um homem mau, talvez até mais inescrupuloso que seu tio Ahmed.
Ao final, uma sucessão de incidentes trágicos irão redimir o jovem, que consegue levar sua irmã de volta à aldeia natal. O enredo ( e mesmo o desfecho ) é trágico, mas Kusturica consegue fazer de Vida de cigano um belo ( e muitas vezes hilariante ) poema cinematográfico.
Vejam um belo trecho do filme (escolhi uma sequência em que se apresentam quase ou senão todas as características que enumerei na obra de Kusturica, e claro, por ser um momento belíssimo ):
Há outras cenas notáveis, como o momento em que o jovem Perhan vira homem, ou o comovente reencontro de Perhan con Danira, nas ruas de Milão, e a mágica morte de Azra, quando ela dá a luz ao filho de Perhan ( com direito a outro elemento chave na obra de Kusturica: a levitação como parte do ritual da morte, os moribundos flutuam nos filmes de Kusturica). Com este magnífico filme ("hipnotizante" como define o cartaz norte-americano, que ilustra esta postagem), Kusturica ganhou o prêmio de melhor diretor em Cannes, 89. Creio que é o filme do Kusturica que gosto mais - e minha incerteza se dá porque gosto muito dos filmes dele, mesmo do Arizona Dream, sabidamente o mais fraco (mas ainda assim, um filme bem interessante e divertido).
Minha sugestão é correrem às locadoras e tentarem encontrar uma cópia do filme em VHS, pois até o presente momento não foi lançado em dvd aqui no Brasil.
Não esmoreçam diante das dificuldades ( que antecipo serem muitas). A beleza da narrativa, a riqueza visual, o excelente trabalho dos atores, a belissima trilha sonora de Goran Bregovic, a mescla de drama e comédia, o registro carinhoso mas não complacente do povo cigano, em suma, o talento de Kusturica, sem duvida, um dos mais importantes e interessantes cineastas da atualidade, justifica qualquer trabalho.
sábado, 22 de março de 2008
ver e ouvir (2)
Cenas de Aprile, de Nanni Moretti.
Continuação de Caro Diário, Aprile mostra, entre outras coisas, o dilema do cineasta, dividido entre o dever moral e político de fazer um documentário sobre o momento político italiano do final dos anos 90 ( com a ascensão de Berlusconni ), sério, crítico, contundente, e seu desejo secreto e inconfessável de fazer um filme musical do tipo que se fazia nos anos 50... deste conflito criativo, surge uma síntese que reuniria as duas aparentemente antagônicas propostas: "Il pastelaria trotzkista", um dos filmes dentro do filme de Aprile.
Vendo O Crocodilo, filme mais recente de Moretti, percebe-se que este "conflito" criativo, na verdade, traduz a premissa artística do cineasta: discutir política, com humor e ao mesmo tempo, fazer uma releitura do cinema italiano, num jogo metalinguístico bastante inteligente. Aprile e O Crocodilo, no geral inferiores ao Caro Diário e o Quarto do filho, crescem - e muito - quando vistos em conjunto. Que o aperitivo acima desperte o apetite por este cineasta tão interessante e original.
domingo, 9 de março de 2008
coisas que eu gosto (de ouvir ) 8:
Aproveitando a passagem de Bob Dylan no Rio, para mais uma "estação" de sua "Never Ending Tour", o jornal O Globo dedicou a capa e a matéria principal do RioShow ao velho bardo. A matéria procura fazer um inventário da carreira de Dylan, ao longo de quase cinco décadas, e, num paralelo ao lançamento do filme Não estou lá, de Todd Haynes, acaba definindo-o como um artista camaleônico, multi-facetado, uma espécie de Fernando Pessoa do rock´n´roll, com suas diferentes vozes poéticas, distintas entre si, e as multiplas "personas" encarnadas pelo músico.
A grosso modo, a matéria divide Dylan em quatro: o Dylan da época do folk rock, com sua gaitinha e violão e as canções de protesto, o pop star do meado dos anos 60, surrealista e empunhando guitarras elétricas, o Dylan irregular dos anos 70 e 80 e finalmente, o artista renascido, aos 66 anos ( 67 em maio próximo ). Bem, a divisão é arbitrária e superficial. Mas para uma revista de programação de fim de semana, com finalidade de divulgação de eventos e não de análise e crítica, digamos que categorizar a carreira de um artista tão importante e profílico como Dylan nestas quatro fases é até passável. O problema é quando o repórter resolve justificar as facetas de Dylan, classificando-as através dos discos lançados nos períodos abarcados em cada fase.
Ora, como todo artista, Dylan tem discos melhores do que outros, uns excepcionais, outros nem tanto, e claro, tem alguns discos sofríveis ( geralmente classificam seus discos da fase "cristã" como horríveis, mas é uma injustiça, afinal, Slow train coming e Shot of Love, a saber o álbum inicial e o final da trilogia cristã são discos muito bons, sendo que o primeiro contém uma das melhores músicas de Dylan de todos os tempos, a pulsante "You´ve gotta serve to somebody" e o último traz a belíssima "Every Grain of Sand", que sem nenhum exagero, podem fazer parte de qualquer boa antologia do músico ). Mas o que me incomodou na matéria foi, ao comentar a fase irregular da carreira de Dylan, ter citado o disco Blood on the tracks como um trabalho irregular, com "poucos belos momentos".
Tudo bem, o repórter pode ter se deixado trair pelo subjetivismo de seu gosto pessoal, mas classificar Blood on the Tracks como irregular é ir na contra-mão da maioria da crítica especializada, que considera este um dos melhores discos de Dylan de todos os tempos - comparado à Bringing It All Back Home, Highway 61 Revisited, Blonde on Blonde, John Wesley Harding, o recente Time Out the Mind e, claro, ao mítico Basement Tapes, álbum duplo que Dylan gravou com o The Band e manteve escondido por quase oito anos e que foi considerado uma lenda durante muito tempo.
Talvez pese contra Blood on the tracks o fato de ser um dos mais tristes e soturnos do artista, registro do fim do casamento de Dylan com sua primeira esposa, Sara Lowdes, e marcado pelo sofrimento, pelo rancor, pela desesperança e pela dor de cotovelo. É um disco denso, sofrido, amargo e amargurado. Afora a alegre quadrilha "Lily and Jack of Hearts", com sua letra quilométrica e brincalhona, as demais canções do disco são reflexões sobre a perda do ser amado. Um disco sobre perdas não é exatamente um disco agradável, porém Blood on the tracks é algo que se escuta da primeira a ultima faixa com prazer. Trata-se de uma pequena obra-prima musical, cheia de nuances, de poesia e com um Dylan inspirado como intérprete.
O disco abre com uma das melhores canções de Dylan, Tangled up Blue, que ele costuma cantar em quase todas as suas apresentações ao vivo, e dá o tom do disco: perda, culpa, solidão, melancolia, alguma auto-ironia. As canções cantam pequenas histórias de ajustes de contas de casais, reencontros frustrados, despedidas, saudades, nostalgia. Há um quê de Tcheckov nas letras e no clima do disco - da mesma forma que o escritor e teatrólogo russo, a dor e a tristeza de Dylan soam de forma acridoce, melancólica. É o tom de Simple Twist of fate, If you see her, say hello ( que aliás foi gravada por Renato Russo numa versão gay, mudando para If you see him, say hello, no disco Tributo a Stonewall, onde o cantor do Legião Urbana presta homenagem ao movimento homossexual ), de You´re a big girl now, Shelter from the storm e you´re gonna make me lonesome when you go ( recentemente regravada pela nova diva da musica cool, a francesinha Madeleine Peyroux, no seu também excelente disco Careless Love ). Esse tom acridoce é rompido pela raivosa e pungente Idiot Wind, uma das melhores ( e maiores, quase 9 minutos de duração ) músicas de Dylan de todos os tempos ( se bem que a melhor versão desta música está registrada num disco ao vivo, Hard Rain, lançado pouco depois. Ao vivo, toda raiva, mágoa e desesperança da letra, amplificada por guitarras elétricas distorcidas, soa inigualável ).
Como todo grande artista, Dylan fala de si e faz com que seus sentimentos mais íntimos ecoem em nossas próprias experiências pessoais. Blood on the Tracks, composto e gravado em meio ao turbulento processo de separação de Dylan e sua esposa, talvez seja um dos seus trabalhos mais confessionais - é o seu sangue que escorre das faixas.
Dolorido, melancólico, triste. Um disco essencial.
domingo, 2 de março de 2008
Shoah palestino
Matan Vilnai, vice-ministro da Defesa de Israel, 27/02/2008, anunciando a ofensiva militar na faixa de Gaza, em retaliação aos foguetes disparados por militantes palestinos à cidades israelenses.
Às vezes, uma frase vale mais do que mil imagens.
Mas são os números, ou mais claramente falando, as vítimas, a prova maior de que Vilnai não estaria usando a expressão judaica erroneamente, ou no sentido de dizer "desastre, catástrofe", outros sinônimos de Shoah. Aliás, Matan Vilnai é quase um anagrama: mata e é vil. Seria engraçadinho, não fosse trágico.
O placar do conflito, até agora, mostra a "goleada" israelense...
Vitimas israelenses: 1 morto, 3 feridos.
Vitimas palestinas: 90 mortos, dezenas de feridos.
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008
domingo, 17 de fevereiro de 2008
Momento poético em tempos de dureza (6)
É por isso que eu moro na areia
Eu nasci pequenininho
Como todo mundo nasceu
Todo mundo mora direito
Quem mora torto sou eu
Eu não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia
Vivo na beira da praia
Com a sorte que Deus me deu
Maria mora com as outras
Quem paga o quarto sou eu
Eu não tenho onde morar
É por isso que eu moro na areia
Eu não tenho onde morar, de Dorival Caymmi.
A pergunta que não quer calar
Que diabo de touquinha é aquela que o Padilha estava usando na premiação de Berlim???