
Mas dois nomes não podem ficar de fora. Dois grandes roteiristas, cujo trabalho realmente é inspirador.
Também oriundo do teatro, Bolt é um nome que está associado ao grande diretor David Lean, de quem foi parceiro em alguns de seus mais importantes fimes.
Sua primeira parceria com Lean foi o espetacular Lawrence da Arábia, baseado nas aventuras do polêmico militar inglês, T.H. Lawrence, um dos mais belos filmes já realizados em todos os tempos e que lançou ao estrelato o então jovem e belíssimo ator Peter O´Toole ( que recentemente, tem retornado às telas com pequenos e interessantes filmes, como Vênus) .

Há uma polêmica acerca do roteiro, que teria sido escrito também por Michael Wilson. Wilson, grande roteirista, autor de "Um lugar ao sol" e "Planeta dos macacos", escrevera com David Lean "A Ponte do rio Kwai", teria sido o primeiro roteirista a participar de Lawrence, mas como estava na "lista negra" de Hollywood, por conta do maccartismo ( junto com Dalton Trumbo, já citado aqui anteriormente), acabou não sendo creditado. Dizem as más línguas que a razão de sua exclusão deve-se menos ao fato de estar lista negra do que ao temperamento excessivamente ciumento e autoral de Bolt, que recusou a parceria.
De qualquer forma, a partir de 1995, com Bolt, Lean e Wilson já falecidos, seu nome foi finalmente incluído nos créditos, constando já nas versões em dvd do filme.

O filme, de todo magistral, ficou conhecido entre outras razões pelo belo Tema de Lara, uma das mais famosas músicas oriundas do cinema, e que quase todo mundo assobia, sem associar ao filme ou ao seu compositor, Michael Jarre.
Dr. Jivago é um dos mais belos dramas românticos de todos os tempos, narrando o sofrido romance entre Jivago e Lara, cheio de encontros e desencontros (mais estes do que aqueles) em meio à dramática Revolução Russa e define, com perfeição, a premissa cinematográfica de Lean: o drama individual e particular eclodindo em meio a um forte conflito social.
No elenco, Omar Sharif, Julie Christie, Geraldine Chaplin e Tom Couternay.

Além desses, Bolt escreveu também O grande motim, segunda refilmagem ( a versão original, dos anos 30, tinha Clark Gable e Charles Lawgton no elenco, sendo refilmado primeiramente nos anos 60, com Marlon Brando e Trevor Howard, nos papéis que nesta versão seriam entregues a Mel Gibson e "sir" Anthony Hopkins ) sobre a história real do motim no navio inglês Bounty, no século XVIII.
Bolt dirigiria um filme, Lady Caroline Lamb, mas a má recepção da crítica fez com que abandonasse o projeto de tornar-se diretor.

Com belas interpretações de Robert de Niro, Jeremy Irons e Liam Neeson e Aidan Quinn no começo da carreira.

Pertencente à geração de artistas que surgiu nos anos 60 e que foi responsável pela última era de ouro do cinema americano, chamada "Nova Hollywood" ( o período de dez anos que vai de Bonnie e Clide à Rede de Intrigas, já comentado aqui ), ao lado de Coppola, Scorsese, Arthur Penn, Brian de Palma, Jack Nicholson, Dennis Hooper, Spielberg, entre outros, Towne é imediatamente lembrado por seu principal
roteiro, Chinatown, dirigido por Roman Polansky, magistral homenagem ao cinema noir e que lhe rendeu o Oscar de roteiro original.

A carreira de Towne começa no início dos anos 60, na produtora do rei dos filmes "B", Roger Corman, escrevendo (e às vezes até atuando ) alguns dos filmes do cineasta notabilizado por fazer filmes com baixissimo orçamento e com uma velocidade assombrosa ( há casos de filmes rodados em apenas um dia ). São desta fase os roteiros de "A última mulher sobre a Terra", ficção científica apocalíptica e erótica, e "O gato fantasma", baseado em conto de Edgar Allan Poe e estrelado por Vicent Price, o astro das produções de Corman.
Trabalhando com Corman, Towne iria conhecer aquele que durante muito tempo seria seu parceiro e camarada, Jack Nicholson, para quem escreveria o longa Drive, He said, obscura incursão de Nicholson na direção. É dessa época também sua parceria com o mítico John Cassavetes, para quem escreveria o curta "My daddy can lick your daddy".

Trabalha depois como scriptdoctor em O poderoso chefão, de Coppola, o que consagraria seu nome como roteirista profissional.

A última missão, entre outros méritos, iria consagrar definitivamente Jack Nicholson como um dos maiores atores norte-americanos.
Em seguida vem Chinatown e o Oscar de melhor roteiro. Este maravilhoso filme, em que tudo funciona com perfeição, desde o roteiro espetacular de Towne, à direção soberba de Polansky, passando pelas interpretações antológicas de Nicholson, Faye Dunaway e John Huston ( no papel do patriarca Noah Barnes, aliás uma justa homenagem ao pai dos filmes "noir"), é muito analisado, sendo inclusive a base de toda "teoria" de roteiro do Syd Field. Justiça seja feita, a análise do roteiro do filme por Field é a melhor coisa que ele fez ( conferir no seu livro Manual do roteiro).

Este filme seria veículo para a consagração de Beatty como grande galã americano. Posteriormente, Beatty começaria uma carreira como diretor, realizando entre outros o belo filme Reds ( que em algum momento comentarei aqui ).
Depois de Nicholson, Beatty é um dos seus principais parceiros e camaradas. Towne escreveu para ele dois roteiros, sem ser entretanto creditado: A Trama ( the Paralaxx view ) e O céu pode esperar.
Para Jack Nicholson e Arthur Penn, e mais uma vez não creditado, trabalharia no roteiro de Duelo de Titãs, curioso western estrelado por Marlon Brando e Nicholson.

Em seguida, realiza Conspiração Tequila, pretensioso e confuso triller, numa trama que misturava elementos do cinema noir, com tráfico de drogas, traições, contando com um elenco estelar, encabeçado por Mel Gibson, Michelle Pfeiffer, Kurt Russel e Raul Julia.
Paralelamente à carreira de diretor, segue como roteirista, escrevendo Greystoke - A lenda de Tarzã, que assinou com o pseudônimo de P.H. Vazak e com o qual foi mais uma vez indicado ao Oscar.

Depois de uma longa e desgastante pré-produção, quem levou a direção foi seu amigo e parceiro Jack Nicholson, que dirigiu e interpretou o filme, de resto bem inferior à Chinatown, algo confuso, apesar de charmoso.
O filme contava com um elenco interessante, além de Nicholson, com participações de Harvey Keitel, Meg Tilly, James Huong.


Talvez Towne sofra daquela maldição que é atribuída aos roteiristas que dirigem, cujos filmes acabam sendo chamados de "filmes de roteiristas", que é um termo pejorativo com o qual se define boas narrativas mediocremente filmadas.
Mas ainda que como diretor, Towne seja bastante ( e injustamente ) criticado, seu trabalho como roteirista é sempre irretocável. E cujos roteiros precisam ser sempre analisados e cotejados por qualquer um que deseje se tornar um roteirista.
(continua)
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