segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

domingo, 30 de dezembro de 2007

Quem são nossos ídolos? - a lista (1)

Procurei elencar um grupo de roteiristas bem diverso, tanto na origem quanto no estilo, procurando ser o mais abrangente possível. Por outro lado, procurei listar trabalhos que possam ser facilmente consultados, podendo ser encontrados em qualquer locadora decente. Deixo claro que a ordem de apresentação dos roteiristas não obedece nenhuma hierarquia, nem escala de valores, tampouco são listados por ordem cronológica. Na verdade, seguem a forma aleatória pela qual os nomes foram surgindo à minha memória.

E pensando em grandes roteiristas, o primeiro nome que me veio à mente foi Jean-Claude Carrière.

Quase sempre associado ao grande Luis Buñuel, com quem escreveu todos os filmes da fase francesa ( O Discreto Charme da Burguesia, Esse obscuro objeto do desejo, A bela da tarde, Fantasma da Liberdade, entre outros ), Carrière é também dramaturgo, escritor, teórico do roteiro ( seu livro A linguagem secreta do cinema é uma obra indispensável para quem quer entender os processos narrativos de um filme ) e também diretor. É um roteirista bastante requisitado, tendo escrito para alguns dos maiores cineastas em atividade na atualidade.

Entre seus principais trabalhos, destaco O Tambor e Um Amor de Swann, ambos de Volker Schlöndorf, Salve-se quem puder - a vida, de Gordard ( sim, ele mesmo, até o mais autoral dos cineastas autorais se vale da ajuda de um roteirista profissional ), Danton, de Andrej Wadja, A insustentável leveza do ser, de Philip Kaufman, Cyrano de Bergerac, de Jean-Paul Rappeneau, Valmont e Os fantasmas de Goya, de Milos Forman, O Mahabharata, de Peter Brook.


O segundo nome que me veio à mente foi o italiano Tonino Guerra. Parceiro mais do que constante de Antonionni, com quem escreveu filmes como A noite, A Aventura, O Eclipse, Deserto Vermelho, Blow-Up, Zabrisky Point, entre outros, Guerra também trabalhou com Fellini, sendo roteirista de Amacord, La Nave Va, Ginger e Fred e A Entrevista. É roteirista frequente dos Irmãos Tavianni, com os quais fez A Noite de São Lourenço, Good Morning Babilônia, Noites sem sol, Kaos. Para Francesco Rosi, escreveu Crônica de uma morte anunciada, baseado em Garcia Marques e A trégua, baseado no relato de Primo Levi. Trabalhou ainda com o grego Theo Angeopoulos ( Paisagem na Neblina )e com o russo Tarkovsky ( Nostalgia ). Tonino Guerra é também escritor e poeta ( o que talvez explique sua parceria com diversos cineastas poetas ).


O terceiro nome que me lembrei foi Charles Brackett. Na verdade, o nome que me veio à mente foi de Billy Wilder. O grande diretor também era roteirista, e entendia como poucos do riscado. Wilder sempre trabalhou com grandes parceiros. Brackett foi um deles.


Aliás, Brackett já era parceiro de Wilder, antes dele virar diretor. Juntos escreveram grandes sucessos como Ninotchka, de Ernst Lubitsch e Bola de Fogo, de Howard Hawks, trabalhos que pavimentaram a carreira de Wilder como diretor.

Para e com Wilder, Brackett escreveu clássicos como Cinco covas do Cairo, Farrapo Humano e, claro, Crepúsculo dos Deuses.

Bracket é roteirista também do clássico "waltdisneyano" Viagem ao Centro da Terra e de Paixões em Fúria, de Henry Hattaway.



Outro grande parceiro de Wilder foi I.A.L. Diamond, com quem manteve uma produtiva parceria por mais de 20 anos.

Diamond escreveu algumas das melhores comédias de Wilder como Quanto Mais quente Melhor, Se meu apartamento falasse ( com o qual ganhou o Oscar de melhor roteiro), A primeira página, Irma la Douce - todas estreladas por Jack Lemmon -, A vida íntima de Sherlock Holmes e também o subestimado e pouco conhecido Fédora, um dos últimos filmes de Wilder ( e talvez um de seus poucos fracassos ).



Falando em Wilder e no divertido A primeira página, o nome que imediatamente vem à tona é de Ben Hetch, que vem ser o autor da peça que inspirou o filme. Na verdade, a comédia de Wilder é a terceira ou quarta versão da peça de Hetch, que antes foi filmado por Howard Hawks como Núpcias de Escândalo ( com uma diferença fundamental - na peça e no filme de Wilder, os protagonistas são dois homens, enquanto a versão de Hawks transforma um dos protagonistas em mulher e o filme em comédia romântica ).


Hetch escreveu vários filmes de Hawks, sendo o que mais se destaca é Scarface, a vergonha de uma nação.

Hetch também escreveu para Hitchcock, sendo roteirista de Correspondente Estrangeiro, Notorious, Quando Fala o coração e Festim Diabólico.

É roteirista também de Gilda , de Charles Vidor, O Morro dos ventos uivantes ( de Willian Wyller, tendo como parceiro John Huston ) e Adeus às armas, de King Vidor.


(continua... )

sábado, 29 de dezembro de 2007

Quem são nossos ídolos?

Quase no finzinho das aulas na Darcy, meu aluno Renato perguntou:


"- Quem são os ídolos de um roteirista? Os alunos de direção geralmente têm seus cineastas prediletos, são fãs de Bergman, de Buñuel, do Glauber, de Woody Allen, do Godard, do Orson Welles, do Tarantino, etc. Um roteirista ou um aspirante à roteirista também tem seus ídolos?"

Renato é um bom aluno, pernambucano sério, dedicado, mas a primeira coisa que me passou pela cabeça foi "aluno de roteiro tem cada uma, isso é pergunta que se faça..." Depois, pensei em responder, parafraseando Bretch: "infeliz do roteirista que precisa de ídolos". Mas acabei ponderando que a pergunta do Renato merecia uma resposta mais concreta ( e menos pedante ).


Admiramos e mesmo emulamos esses e outros cineastas por conta de sua obra, dos filmes que realizaram. E ainda que um filme seja uma obra criada pelo somatório de diversos talentos, em última instância, é o diretor o maior responsável por ela, é o seu autor. Claro que meu raciocínio está completamente alinhado com a teoria do autor (o que talvez me crie problemas com meus colegas roteiristas). Para o bem e para o mal, o filme é a expressão artística do seu diretor. Daí admirarmos a obra de um Buñuel, de um Fellini, do John Huston, do Nelson Pereira dos Santos, do Ruy Guerra, pois seus filmes são a expressão de seu talento e sua personalidade.


Mas sabemos que os filmes são obras coletivas.


E que os filmes de Bergman são excelentes, além de seu gênio criador incomparável, mas também pela fotografia de Sven Nykvist, pelas atuações de atores soberbos como Max von Sydow, de Liv Ulmman, de Erland Josephson, de Harriet Anderson, de Ingrid Thulin, de Bibi Anderson, entre outros. No caso de Bergman ( e no da maioria dos cineastas citados anteriormente ), ele também é o autor do roteiro de seus filmes, o que torna a sua obra ainda mais pessoal.

Alguns dos maiores cineastas são autores dos seus roteiros. Por outro lado, alguns cineastas também são roteiristas. Esssa é uma diferença fundamental.

Entendo que, antes de mais nada, escrever roteiros é um trabalho. O diretor que escreve, escreve para si. Escrever faz parte do seu processo de criação como diretor.

O roteirista é aquele que escreve filmes para terceiros: sejam diretores ou produtores.


John Huston por exemplo, foi roteirista antes de virar diretor, tendo escrito roteiros de filmes como Jezebel ( de Willian Wyler), Sargento York (de Howard Hawks) , Seu último refúgio, Os assassinos, O Estranho ( para seu amigo Orson Welles).

Escreveu boa parte ou pelo menos a maioria dos roteiros de seus filmes. Mas não de todos. Nem por isso, os filmes em que contratou um roteirista para escrever para ele ( ou com ele ) são menos pessoais e autorais.


Martin Scorsese nunca escreveu um roteiro. Já Coppola era roteirista antes de tornar-se diretor ( ganhou o Oscar de melhor roteiro com Patton, que foi dirigido por Franklin Schaffner), da mesma forma que Billy Wilder, Oliver Stone, o nosso Jorge Durán aqui no Brasil. E há também caso de roteiristas que dirigiram filmes, como Dalton Trumbo, bons filmes, inclusive, sem nunca terem deixado de ser roteiristas.

Outra coisa importante a ser considerada. Da mesma forma que o filme, o roteiro também é uma obra coletiva. Muitos dos melhores roteiros foram escritos por dois, três autores, às vezes por uma equipe inteira. E isso não se aplica apenas a filmes chamados "comerciais". Crime delicado, filme de Beto Brant, uma obra extremamente autoral, foi escrito por quase um time de futebol de salão. Roteiristas de diferentes personalidades e estilos as vezes colaboram num mesmo roteiro, e nem por isso ele perde a sua unidade, a sua força dramatúrgica, o seu papel no filme.

Então, antes de elegermos ídolos a quem reverenciar, o importante é ter alguns roteiristas como referências para cotejar seu trabalho, de forma a nos ajudar a escrever melhor. Apresento aqui uma lista de roteiristas notáveis. São artistas de diferentes épocas, origens e estilos, cujo trabalho deve ser fruto de estudo e análise, nunca de cópia.

Ah, Renato, é uma lista pra calar a boca de qualquer aluno de direção esnobe, hehehe...


(continua)

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Momento poético em tempos de dureza (4)





"As I was out walking on a corner one day,
I spied an old hobo, in a doorway he lay.
His face was all grounded in the cold sidewalk floor
And I guess he'd been there for the whole night or more.
Only a hobo, but one more is gone
Leavin' nobody to sing his sad song
Leavin' nobody to carry him home
Only a hobo, but one more is gone


A blanket of newspaper covered his head,
As the curb was his pillow, the street was his bed.
One look at his face showed the hard road he'd come
And a fistful of coins showed the money he bummed.
Only a hobo, but one more is gone
Leavin' nobody to sing his sad song
Leavin' nobody to carry him home
Only a hobo, but one more is gone

Does it take much of a man to see his whole life go down,
To look up on the world from a hole in the ground,
To wait for your future like a horse that's gone lame,
To lie in the gutter and die with no name?
Only a hobo, but one more is gone
Leavin' nobody to sing his sad song
Leavin' nobody to carry him home
Only a hobo, but one more is gone"


Only a Hobo, de Bob Dylan

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

momento gastronômico (2)


Bacalhau Natalino

Já que não dá pra me teletransportar pra Marte, nem manter a pose blasé em relação às festas de fim de ano, o jeito é tentar entrar no clima da forma menos pusilânime possível. E como a única coisa que resta em meio ao bimbalhar dos sinos natalinos e ao espocar dos fogos de artifício do Reveillon é comer bem, é sempre bom ter uma coisinha gostosa para fazer. De preferência, algo que seja bastante farto para alimentar os amigos que sempre vem filar a bóia aqui em casa.

Minha peça de resistência é uma espécie de bacalhau ao Zé do Pipo, que os amigos já apelidaram de "bacalhau ao Zé do Pepê". Apesar de achar gostoso, o Bacalhau ao Zé do Pipo sempre me pareceu um prato meio óbvio. Acho que todo mundo faz. Pensou em bacalhau, lá vem o manjado Zé do Pipo. Por isso, procurei adaptar esse prato, que é razoávelmente fácil de se fazer ( talvez por isso todo mundo acabe fazendo ), de forma a tornar o clichê culinário natalino a meu favor.

Aliás, saber usar um bom clichê é algo que aprendi a fazer, no meu dia-a-dia de roteirista. Nunca tive preconceitos com os clichês. É preciso entender que antes de virar clichê, a idéia original deve ter sido muito boa, tanto que passou a ser usada abusiva e repetidamente, até perder sua originalidade anterior e cair na vala comum das soluções fáceis. Como a famosa elipse da cena de sexo, no cinema, o casal se beijando, deitando na cama com desejo e a câmera corrigindo lentamente para uma lareira que crepita. Fusão para a mesma lareira, na qual agora só há cinzas e uma nova correção da câmera enquadra novamente o casal, agora devidamente deitados, nús sob as cobertas, fumando seu indefectível cigarrinho pós-coito. Há de convir que essa solução para driblar a censura da época é genial - por trabalhar com a cumplicidade do espectador, que completava a cena do jeito que achasse mais interessante. Pena que o gênio anônimo que bolou essa elipse foi tão copiado que hoje só dá pra utilizar a famosa "correção de cama pra lareira" de forma cômica, paródica.

Mas se olharmos sem preconceito e com criatividade, vamos perceber que por baixo do óbvio há coisas muito boas para serem devidamente aproveitadas. As pessoas geralmente torcem o nariz para o que aparentemente soa como óbvio, sem entender que é possível subverter o clichê, quebrando a expectativa do público. Pelo menos é o que eu tento fazer, nos meus roteiros. E que faço em relação ao bacalhau.

Contando com a espectativa que o bacalhau cria, uso a base do Zé do Pipo e surpreendo a todos com um bacalhau gratinado que aparentemente parece o Zé do Pipo, mas que é bem diferente e na minha opinião, muito mais saboroso.

Já estão salivando? Bem, vamos à receita. É bem simples, não tem como errar.

Os ingredientes:


Dependendo da quantidade de pessoas, o ideal é um quilo e meio de bacalhau. Se preferir, e se estiver com bala na agulha, compre logo apenas o lombo do bacalhau, que é na verdade a parte que vale a pena comer.

Cebola e alho, em grande quantidade. As cebolas devem ser cortadas de duas formas: picadas pra refogar o bacalhau e em rodelas, para depois ir montando o prato. Então, não economize na cebola.

Batatas... meio quilo das grandes.

Creme de leite... dependendo da quantidade de bacalhau ( pensando no quilo e meio), umas 4 latas.

Pimenta do reino

Queijo ralado

Sal.

Azeite, muito azeite. E de preferência, extra virgem.


Primeiramente, deixe o bacalhau cortado de molho em água fria por 24 horas, trocando a água de tres em tres horas. Depois cozinhe por 20, 30 minutos. Desfie o bacalhau ( cuidado com as espinhas! ) e separe.

Corte e cozinhe batatas em rodelas mais ou menos compridas e finas.

Doure a cebola e o alho picado em azeite e coloque o bacalhau desfiado para refogar. Tempere com pimenta e algum sal ( é bom provar o bacalhau antes de refogar pra saber se ele ficou pouco ou suficientemente salgado, após as de 24 horas molho. Dependendo, coloque a quantidade de sal que seu paladar aprovar, com devido cuidado, pois se tem uma coisa ruim é bacalhau sem sal, mas pior ainda é bacalhau excessivamente salgado ).

Refogado o bacalhau e cozida as batatas, vamos armar o prato.


Pegue uma travessa que vá ao forno e despeje uma boa quantidade de azeite. Coloque uma camada de batatas, fazendo uma "cama". Depois coloque uma porção de bacalhau desfiado sobre essa "cama" de batatas. Coloque rodelas de cebola sobre o bacalhau, azeite e despeje uma lata de creme de leite. Feito isso, arme uma nova camada de batatas, mais bacalhau, cebolas, etc. Repita o processo até atingir a borda do refratável. Não esqueça de colocar azeite a cada camada. Polvilhe com queijo ralado e leve ao forno para gratinar. Estado o forno razoavelmente aquecido, o bacalhau gratina em 20, 25 minutos.


Um quilo e meio de bacalhau geralmente dá pra fazer uma travessa grande e uma pequena. O que é bom, pois enquanto seus amigos estão se deliciando com a primeira fornada, dá tempo suficiente de gratinar a segunda travessa, e quando todos pensam que o bacalhau acabou, eis que vc surge da cozinha com um repeteco.
É servir e correr pra pros aplausos.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

coisas que eu gosto (de ver ) 5 - Especial de Natal



Johnny vai à guerra, de Dalton Trumbo, 1971.



Já que estamos nesse lufa-lufa de Natal, pensei em comentar este filme, que tem tudo a ver com "o espírito natalino". Único filme do grande roteirista americano Dalton Trumbo ( só clássicos, como Spartacus, Pappillon, The Fixer, A Guy named Joe- refilmado por Spielberg como Além da Eternidade-, Exôdus, O último pôr do sol, A princesa e o plebeu, etc ), ganhador de 2 oscars como roteirista ( que, entretanto, foi impedido de receber ), baseado em seu romance, de mesmo nome.

Trumbo foi uma das vítimas do macartismo, tendo sido proibido de trabalhar no cinema, isso quando estava no auge da sua carreira como roteirista. Ele foi um dos "dez de Hollywood", cineastas que, ao serem confrontados pela sanha anti-comunista oportunista do medíocre senador Eugene McCarty, alegando a 1a Emenda da constituição americana, se recusaram a testemunhar no Comissão de assuntos anti-americanos - uma espécie de CPI do mensalão local, formada por uma laia que muito se assemelha à turba de tucanos, pefelistas e heloísas helenas assanhados travestidos de moralistas e patriotas, mas que buscavam apenas aparecer na tv e angariar votos ( tal como cá ). Testemunhar na CPI, digo, na comissão era um eufemismo para delatar possiveis comunistas ou simpatizantes. Muitos fizeram isso. O grande cineasta Elia Kazan, entre eles. Para salvar a pele, muitos entregavam qualquer um. Havia até uma lista com os nomes manjados que a comissão oferecia aos depoentes. O que importava era, como em qualquer processo inquisitório, que as vítimas capitulassem, e abdicassem de sua dignidade através do processo mais torpe: a delação, a traição. Nada mais prazeroso ao algoz do que transformar suas vítimas em algozes de novas vítimas. É a legitimação da opressão.


Os "dez de Hollywood" se recusaram a fazer qualquer delação e caíram em desgraça. Foram presos, depois colocados na "lista negra", proibidos de trabalhar em qualquer atividade da indústria cinematográfica.

Abrindo um parenteses: Junto com Trumbo estava John Howard Lawson, também roteirista e, pelo que penso, talvez o único que fosse realmente comunista no grupo. Lawson era ativista dos direitos civis, foi criador e presidente da WGA ( Writers Guild of America, o sindicato dos roteiristas, o mesmo que hoje está deixando os executivos de Hollywood de cabelos em pé, com essa greve histórica que já dura tres meses... ), escreveu o roteiro de "Bloqueio", um filme que defendia os republicanos espanhóis contra as forças fascistas de Franco, visitou a antiga União Soviética diversas vezes, era sem dúvida um militante de esquerda. Lawson terminaria sua vida dando aulas, escrevendo um excelente livro sobre dramaturgia chamado O processo da criação cinematográfica, que recomendo a quem quiser entender um pouco de roteiro e de direção. Os demais, como Trumbo, eram apenas humanistas, progressistas, coisa que na América equivale a ser "vermelho". Ainda mais nos anos cinzentos da guerra fria. Ou, nos dias atuais, da doutrina Bush.

Seja como for, comunistas, esquerdistas, ou apenas simpatizantes, eles foram severamente punidos e perseguidos. Para poderem sobreviver, já que estavam na lista negra, e nenhum estúdio lhes dava trabalho, foram obrigados a escrever sob pseudônimos, ou, mesmo arrumar "testas de ferro" que assinassem seus trabalhos. Há um belo filme de Martin Ritt, Testa de Ferro por acaso, com Woody Allen, que retrata de forma pungente essa página vergonhosa da história americana recente.

Trumbo passou anos escrevendo com pseudônimos ou através de amigos que lhe emprestavam o nome. Os dois Oscars que recebeu foram entregues aos seus testas-de-ferro, só sendo devidamente creditado como o verdadeiro premiado e recebido as estatuetas carecas nos anos setenta ( só um, o outro lhe foi "entregue" postumamente, pois morreu em 1976).



Sua reabilitação se deve em muito a Kirk Douglas, que bancou toda sua reputação de grande ator para incluir o nome de Trumbo nos créditos de roteiro de Spartacus.


Trumbo escreveu o romance Johnny got his gun em 1938, já prevendo os horrores da 2a guerra mundial que se aproximava. O romance, como o filme, conta a história de um jovem idealista que se alista para lutar no exército americano durante a primeira guerra mundial. Atingido por uma bomba, perde os braços, as pernas, tem o rosto destruído, ficando cego, surdo e mudo. Todo o romance se passa na mente de Johnny que, apesar de tudo, se mantém intacta e ativa. A narrativa é mesclada pelas sensações vividas pelo "pedaço de carne viva" e seus sonhos, lembranças, devaneios, que se misturam à realidade de tal forma, que aos poucos, vamos perdendo a noção do que é real ou imaginário. Levando em conta a capacidade inesgotável de fazer o mal do ser humano, com suas armas, suas guerras, com a frieza dos cientistas, o oportunismo dos políticos, a mentalidade tacanha e autoritária dos militares, a ganância desenfreada dos capitalistas ( os únicos que ganham com as guerras, seja qual forem elas ), qualquer pesadelo parece insignificante diante da realidade. Neste sentido, o livro tem uma perspectiva de humor negro, apropriada para quem deseja denunciar a hipocrisia dos sentimentos patrióticos. Totalmente despojado de qualquer membro ou sentido que o faça interagir com os outros homens, aquele "pedaço de carne viva" é o único ser humano em toda a história.

Trumbo sempre quis transformar seu livro num filme, apesar de a princípio, a história oferecer pouca ou quase nenhuma perspectiva cinematográfica - pelo menos, para um filme narrativo.

Diversas vezes provoquei meus alunos nas aulas de roteiro, oferecendo este desafio: como fazer um filme onde o personagem não fala, não vê, não escuta, não tem rosto, não tem braços, nem pernas ( porém, tem sexo - isso é um detalhe fundamental. "Quando sentem a aproximação de uma bomba, instintivamente os soldados se colocam em posição fetal, protegendo seu sexo¨, diz um dos médicos-militares que "cuida" de Johnny ). Diante dessa provocação, a maioria dos alunos acaba desistindo do desafio, por considerá-lo insolúvel. Ao que eu respondo: mas ele pode pensar. E o pensamento é talvez a matéria mais cinematográfica existente.


E é assim que Trumbo consegue fazer sua narrativa fluir - através de dois planos, a realidade, onde um cotoco humano coberto por uma tenda deitado numa padiola num quarto vazio e escuro, imagem apavorante, e o imaginário, o mundo interior de Johnny. Através da representação dos pensamentos, sonhos, delírios do rapaz deformado, o filme respira, se realiza plenamente.

Trumbo penou para realizar o filme. Primeiro, pelas questões referentes à lista negra. Depois, pela aparente inviabilidade do projeto. Nenhum estúdio quis arriscar um centavo num filme no qual 50% ou mais da história se passava num quarto escuro, onde um "pedaço de carne viva" tecia comentários em voice-over. Trumbo resolveu ele próprio produzir o filme, usando seus proprios recursos. Num primeiro instante, pensou em entregar o projeto a Buñuel. Se havia alguém capaz de contar aquela história, esse alguém era Buñuel. Porém, problemas de orçamento e cronograma impediram o gênio espanhol de fazer o filme. Buñuel aconselhou Trumbo a dirigir ele mesmo o filme.

O filme é mais soturno que o romance, ainda que, aqui e ali, haja espaço para algum humor - nigérrimo. O tom mais pesado e totalmente pessimista deve-se ao fato de que muita água - e principalmente, muito sangue - correu, desde que ele escrevera o romance, até o momento em que conseguiu levá-lo às telas. Se as atrocidades vivenciadas por Trumbo na primeira guerra mundial forneceram horror suficiente para escrever seu romance, ele agora tinha não somente as experiências da 2a guerra mundial, muito mais cruenta e violenta que a primeira, bem como todo o processo de desumanização vivido pelo mundo, com a revelação dos horrores nazistas, dos campos de concentração, da bomba atômica, da descoberta do terror stalinista ( que foi uma ducha de água fria para aqueles que, como Trumbo, acreditavam num "outro lado" diferente e oposto ao mundo ocidental e capitalista ), a perseguição macartista, a guerra fria e, mais diretamente, à guerra do Vietnã, em pleno curso quando Trumbo finalmente consegue viabilizar o filme.

Estéticamente, o filme é dividido em dois planos, realidade e sonho. As cenas do "cotoco humano" são primorosas, filmadas em preto e branco com tons expressionistas ( a cena que abre o filme, com os médicos filmados de baixo pra cima, numa grande angular, eles usando máscaras de cirurgia, num preto e branco totalmente contrastado parece saída de um filme de Robert Wiene ou Lang, do cinema expressionista alemão, é impressionante ). Já as cenas "mentais" de Johnny, suas lembranças, seus sonhos, são todas num colorido que começa em tons pastéis e vai acumulando cores, num tom mais surrealista. Não só a fotografia cria a aura onírica, mas a própria interpretação, progressivamente rompendo com o realismo, e o espetacular uso do som, sempre exagerado, com pontuações que muitas vezes seguem o sentido dramático oposto ao da cena. O silvo da bomba que irá atingir Johnny é usado repetidamente, criando uma sensação incômoda - é através da aproximação da bomba que a ação retorna à realidade.

A narrativa aposta na perda progressiva da sensação de realidade, e aos poucos perdemos a noção do que é lembrança, do que é sonho, do que é delírio, os elementos vão se misturando de tal forma que o que vemos é muitas vezes confuso, estranho, perturbador.

Num dos sonhos, Johnny encontra-se com Jesus, interpretado de forma extraordinária por Donald Shuterland, não à toa, um dos atores mais identificados com a contra-cultura naquele momento. Recém saído do anarquico M.A.S.H., de Altman, Shuterland faz um Cristo cínico, engraçado, demasiadamente humano. Um Cristo que, impotente diante da desumanidade dos homens, aceita seu papel de "coveiro" da humanidade. Há uma cena muito boa, em que Jesus e Johnny discutem os limites de deus, diante das ações dos homens ( foram os homens que fizeram Johnny ser o que é ), na oficina de carpintaria de Cristo. O trabalho de Jesus é justamente fazer as cruzes que irão enfeitar os cemitérios.

Neste sentido, há um evidente sentimento de cristandade perdida e ressentida no filme. O filme usa e abusa de elementos cristãos, além do próprio Cristo, para mostrar a inviabilidade da proposta cristã ( estendendo-se aí para qualquer outra religião ) em resolver os problemas do mundo. É impossível acreditar em Deus neste mundo. Lembrando a famosa frase de Dostoiévski em "Irmãos Karamazov", "se deus não existe, tudo é permitido", Trumbo parece afirmar, não sem tristeza ou desencanto, que a impossibilidade da existência divina levou o homem a uma permissividade sem limites em relação à sua própria humanidade. "Tudo é permitido": o horror, o horror, como anos depois balbuciaria Marlon Brando, em "Apocalipse Now"(sobre esse filme falarei depois).

(atenção: a partir daqui falo sobre o desfecho do filme. Quem preferir ver o filme antes de saber como ele termina, é bom parar por aqui. )

Ao final, desiludido, Johnny, que consegue finalmente se comunicar com os demais, através de código morse ( batendo a cabeça contra a cabeceira da cama, repetidamente, a frase S.O.S ), pede para ser exibido num show de circo de horrores, pois seria a unica forma de poder conviver com os demais mortais. Diante da recusa ( algo jocosa ) dos médicos e militares, Johnny pede para ser morto. É o climax do filme, que o projeta à condição das obras-primas: os militares recusam a matar o doente, afinal, seria um crime. Há um diálogo esplendoroso entre o general e o capelão, que assistem aos pedidos de Johnny pela morte. O general cobra do padre que diga alguma coisa "confortadora" que faça o "pedaço de carne viva" desistir de sua vontade de morrer. E o padre retruca que não é capaz de pensar nada reconfortante, diante da desgraça que aflige o pobre Johnny. O general, irritado, diz que o trabalho dos padres é esse, reconfortar os desesperados. Ao que o capelão responde: "foi o seu trabalho que fez ele ficar assim, não o meu."

Belo diálogo.
Ao final, um soco no estômago que derruba até o mais insensível dos homens: o que parecia ser uma redenção ( o fato de Johnny conseguir se comunicar com os demais, e finalmente conseguir se socializar, provar que está vivo ), revela-se o pior dos pesadelos. Johnny não quer viver, mas os militares não o deixam morrer. É sedado, mantido confinado em seu quarto, sabe-se lá por quanto tempo mais. É condenado à vida, àquela vida vegetativa, pois os mesmos generais que massacram milhares de homens nas guerras hipocritamente são contrários à eutanásia - cabe somente a deus tirar a vida.

O final do filme é doloroso ao extremo. Sozinho em seu quarto (prisão), dopado, incomunicável, Johnny repete exaustivamente a mensagem de S.O.S, batendo sua cabeça contra a cama, sem obter resposta ou socorro. É um plano longo, um zoom-out, vamos nos afastando daquele pedaço de homem que está condenado a viver, por muitos e muitos anos ( afinal, Johnny é apenas um jovem de 20 poucos anos, e afora não ter braços, pernas, olhos, boca, rosto, ironia das ironias, goza de excelente saúde ). A imagem vai escurecendo lentamante, enquanto escutamos a batida solene de um tambor, um surdo, marcando o compasso do luto. Arrepiante.

O filme não é perfeito. Há algumas irregularidades, principalmente nas cenas surrealistas. Algumas são bem fracas, e apelam para um efeito fotográfico meio ultrapassado, que é o uso do filtro "flood", para criar uma aura de evanescência. Trumbo usa esse efeito em duas cenas: numa em que mostra uma missa, onde o padre diz que "deus está do nosso lado", abençoando os soldados que irão morrer pela pátria e numa outra, na festa de Natal na padaria onde Johnny trabalhava antes de se alistar. Essa cena, aliás, é a mais excessiva do filme, no sentido de concentrar quase todos os elementos de "exagero" típico de "cenas de sonho". Além do filtro flood, há marcas excessivamente teatrais, como a do dono da padaria que, paramentado como um estereótipo do capitalista, faz o brinde que une a todos, patrão e empregados, pátria e jovens que irão entregar suas vidas numa guerra sem sentido nem retorno, repetindo, ad nausean, ao longo da cena, a frase: "I´m a boss, this is a champagne, Merry Christmas".

Particularmente, é o momento menos feliz do filme, que ademais, mereceu de Buñuel a seguinte crítica: "um filme sensível e tocante, que se ressente de alguns sonhos filmados de forma muito burocrática". A crítica de Buñuel é pertinente.

Mas é na parte "real" (ou, a do pesadelo? ) que o filme logra melhores resultados.

Não à toa, ganhou o Prêmio Especial do Festival de Cannes, em 1971, mais o prêmio FIPRESCI.

O filme conta com um elenco afiado: Timothy Bottons interpreta Johnny, Jason Robards faz seu pai ( que ator magistral é Robards, ele se impõe em todas as cenas que aparece), o já citado Shuterland interpreta o divertido e cético Cristo. Além destes, há uma série de bons atores coadjuvantes, com particular destaque à Sandy Wyeth, que faz a prostituta ruiva Lucky ( Sandy era uma beldade nos anos 70, tendo filmado Easy Ryder ). O próprio Trumbo atua no filme, justamente na desastrosa cena do "i´m a boss, this a champagne, Merry Christmas", no papel do capitalista empostado ( a informação é do IMDB, geralmente é confiável ).

Taí uma bela forma de curtir a tarde sonolenta de 25 de dezembro, regurgitando o peru da véspera e de ressaca pelo vinho da ceia. Reúna toda a família e passe Johnny vai à guerra. Vai ser uma experiência inesquecível. Um filme propício para esse momento de confraternização, de solidariedade, de caridade, de respeito, amor e paz entre os homens de boa vontade.

Mas recomendo um anti-ácido àqueles que tenham a sensibilidade ainda não totalmente obliterada.

domingo, 23 de dezembro de 2007

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

coisas que eu gosto ( de ouvir) 6:



The Birds, vários.

Tenho que confessar que nunca fui muito fã dos Beatles. Sempre achei meio bonitinho demais, gracinha demais, legalzinho demais. Claro que eles tem coisas boas, o disco Revolver e o Álbum Branco são muito bons. Mas ainda que sempre rolem bem no toca-discos (ops! ) ou nas festinhas, não é exatamente o que curto em música (pop? nunca soube se os beatles eram uma banda de rock´n´roll ). No mais, prefiro os discos solos dos ex-integrantes dos Beatles, particularmente do trabalho do George Harrinson.

Pra mim, a melhor banda dos anos 60 sempre foi e será The Byrds. Curiosamente, é uma banda que no começo procurava emular "à moda americana" o som dos ditos FabFour. Mas isso não é uma particularidade apenas dos Byrds, a maior parte das bandas surgidas na primeira metade dos anos 60 tentavam pegar carona no sucesso e no estilo melódico dos Beatles - a exceção ou a contrafação seria os Rolling Stones, que não estavam nem aí pra música de seus compatriotas. Mas havia um diferencial nos Byrds. Musicalmente, havia Roger McGuinn, um dos maiores guitarristas americanos com seus "riffs" ao mesmo tempo estridentes e melódicos, muito melhores que os solinhos do George Harrison e muito mais presentes nas canções, ao contrário do pobre Harrison, que era literalmente "abafado" pela dupla Lennon&McCartney.

E depois, havia Dylan.

Durante muito tempo os Byrds foram a melhor tradução de Dylan, de quem gravaram inúmeras canções, em versões musicalmente mais sofisticadas ( à época, Dylan ainda estava naquela fase joãogilbertiana de banquinho e violão e gaitinha ). Em boa parte, a popularidade inicial de Dylan se deve em muito às versões que os Byrds gravaram de suas músicas.

Os Byrds transitaram para o rock mais lisérgico, mais psicodélico e mais sofisticado muito antes do lançamento do Sargent Pepper´s. Fifth Dimension, Eight Miles High, entre outras, aconteceram antes de Lucy in the Sky with diamonds - e musicalmente, são muito mais elaboradas.

Muitos músicos passaram pelos Byrds, ao longo de suas várias formações ( sempre com McGuinn no comando ), o que contribuiu para que os Byrds soassem um pouco diferentes, a cada disco, sem perder sua identidade musical. E como havia um revezamento entre os vocalistas, maior do que o "par-ou-impar" entre Lennon e McCartney, havia uma maior diversidade musical, por conta dos timbres tão diferentes como os de David Crosby, Gene Clark, Chris Hillman e do próprio Roger McGuinn.

No clip abaixo, os Byrds na sua formação clássica canta uma de suas mais belas canções, "Going Back"

Outra coisa que me faz gostar muito dos Byrds. A participação da banda na trilha sonora de Easy Rider, de Dennis Hopper. Posso estar forçando a barra mas, bem, é minha opinão, penso que uma boa parte do impacto de Sem Destino reside na força poética e melódica das canções do Byrds que pontuam a narrativa do filme, como por exemplo a melancólica The Ballad of Easy Rider e a rascante It´s alright, Ma ( I´m only bleeding ) - esta de Dylan.

Das muitas versões que os Byrds fizeram para Dylan gosto especialmente de, além da já citada It´s Alright, Ma, Heels on Fire, My Back pages, You ain´t going nowhere, Chimes of Freedom, Lady Down Your Weary Tune, All I really want to do e Positively 4th street mas não me agrada a versão de Lay Lady Lay tampouco a de Mr. Tambourine Man ( que aliás, foi regravada pelo Zé Ramalho e os The Fevers, sim, eles mesmo, a maior "banda cover de todo mundo" do Brasil, com imitação perfeita dos riffs de guitarra de McGuinn ).

Para quem desconhece o som desta banda, recomendo as coletâneas The Byrds greatest hits, The very best of the Byrds ou 20 Essential tracks ( sendo que este o que acompanha a trajetória inteira da banda ) e, é claro, The byrds play Dylan, coletânea das principais canções de Dylan gravadas pelos "pássaros".

Então, o que estão esperando? Um bom presente pra se dar, nessa época de gastança natalina. As Lojas Americanas costumam vender baratinho. Vocês vão gostar, tenho certeza. E nunca mais vão conseguir ouvir o "quarteto de Liverpool" com a mesma condescendência.

Quadros que queria ter na parede aqui de casa (9)


"As tentações de Santo Antão", de Hyeronimus Bosch.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

fotogramas (4)




Eu e o Durán, num flagrante de reverência explícita.




(não estranhem as minhas longas madeixas nem a batina usada pelo Durán, essa foto é das filmagens de O resto é silêncio, que eu dirigi e que o Durán fez uma participação como ator, cinco anos atrás )

Não fui eu quem disse, mas David Rasche


"- Atores acostumados aos textos de David Mamet sabem que o mais instigante em sua dramaturgia são os duelos de argumentação entre os personagens. Em uma peça como "Oleanna" ( sobre o potencial assédio sexual de um educador sobre sua aluna ), uma hora você se convence que o professor está certo. Em seguida, a estudante argumenta e derruba sua convicção. Você nunca sabe quem tem razão. Com o roteiro escrito por Paulo Halm para "Olhos Azuis", isso também acontece."

Sim, é cabotino me auto-elogiar através do comentário dos outros. Mas cá entre nós, exageros à parte, não é todo dia que você é comparado ao David Mamet.
David Rasche acabou de filmar o mais recente filme do Zé Joffily, Olhos Azuis, do qual sou roteirista.
O David, de quem eu já era fã por conta do impagável seriado "Na mira do tira" ( no qual ele interpretava o detetive durão Sledge Hammer ), é um excelente ator e uma grande figura humana.
Com a ajuda de meio litro de uísque ( agora entendo porque o Nelson Pereira dos Santos só se referia à bebida como "o professor", achava que era um trocadilho com o famigerado Teatcher´s, quando na verdade era uma alusão à capacidade do uísque nos fazer falar perfeitamente qualquer idioma, bêbados não tem fronteiras linguísticas ) consegui conversar com ele, trocar idéias, e aproveitei pra pedir licença para usar seu comentário publicado no O Globo ( matéria do Rodrigo Fonseca ) aqui no meu blog.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

o povão sofre






Foi um domingo ruim para uma grande parte da população brasileira ( O Corinthians tem a segunda maior torcida do Brasil, só perde para a do Flamengo ) e com certeza para uma boa parte da população venezuelana (49% dos venezuelanos, com certeza).

E agora? (2)









E agora, Chavez?




Criaram tanto alarde em torno da emenda constitucional que permitiria a reeleição consecutiva do presidente Chavez e esqueceram dos outros 68 pontos previstos para serem alterados na Constituição Venezuelana, muito mais importantes e fundamentais para a melhoria da vida da maioria da população daquele país.


Na verdade, e em boa parte por culpa do estilo espalhafatoso e algo histriônico do Chavez, usaram a questão da reeleição para brecar as mudanças constitucionais realmente necessárias para o processo de democratização radical que a Venezuela está vivendo.

A direita, os grandes grupos de comunicação, a classe média covarde, a CIA, com certeza o Bush devem estar exultantes. É a primeira grande derrota da esquerda latina depois de um período de sucessivos e importantes avanços ( eleição e reeleição do Lula, eleição do Kirschner e da sua sucessora e esposa Cristina Kirschner, eleição do Evo Morales na Bolívia, eleição do Rafael Correa no Equador, do Tabaré Vasquez no Uruguai e mesmo a primeira reeleição do Chavez ).

Se a derrota no plesbicito significa uma guinada conservadora na tendência pró-esquerda na América Latina ou se é apenas um retrocesso momentâneo, localizado ou tão somente um alerta para conter o açodamento do Chavez ( que às vezes parece mais um personagem do BBB em sua ansia por aparecer do que um verdadeiro estadista ), ainda é cedo para dizer.

Mas que doeu, doeu...

E agora? (1)









E agora, Corinthians?





Sou flamenguista e apesar de estar feliz da vida por termos entrado na Libertadores, fiquei triste com a queda do Curingão pra segundona.

O povão deve ter ido dormir bem triste, ontem...