quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

momento gastronômico (2)


Bacalhau Natalino

Já que não dá pra me teletransportar pra Marte, nem manter a pose blasé em relação às festas de fim de ano, o jeito é tentar entrar no clima da forma menos pusilânime possível. E como a única coisa que resta em meio ao bimbalhar dos sinos natalinos e ao espocar dos fogos de artifício do Reveillon é comer bem, é sempre bom ter uma coisinha gostosa para fazer. De preferência, algo que seja bastante farto para alimentar os amigos que sempre vem filar a bóia aqui em casa.

Minha peça de resistência é uma espécie de bacalhau ao Zé do Pipo, que os amigos já apelidaram de "bacalhau ao Zé do Pepê". Apesar de achar gostoso, o Bacalhau ao Zé do Pipo sempre me pareceu um prato meio óbvio. Acho que todo mundo faz. Pensou em bacalhau, lá vem o manjado Zé do Pipo. Por isso, procurei adaptar esse prato, que é razoávelmente fácil de se fazer ( talvez por isso todo mundo acabe fazendo ), de forma a tornar o clichê culinário natalino a meu favor.

Aliás, saber usar um bom clichê é algo que aprendi a fazer, no meu dia-a-dia de roteirista. Nunca tive preconceitos com os clichês. É preciso entender que antes de virar clichê, a idéia original deve ter sido muito boa, tanto que passou a ser usada abusiva e repetidamente, até perder sua originalidade anterior e cair na vala comum das soluções fáceis. Como a famosa elipse da cena de sexo, no cinema, o casal se beijando, deitando na cama com desejo e a câmera corrigindo lentamente para uma lareira que crepita. Fusão para a mesma lareira, na qual agora só há cinzas e uma nova correção da câmera enquadra novamente o casal, agora devidamente deitados, nús sob as cobertas, fumando seu indefectível cigarrinho pós-coito. Há de convir que essa solução para driblar a censura da época é genial - por trabalhar com a cumplicidade do espectador, que completava a cena do jeito que achasse mais interessante. Pena que o gênio anônimo que bolou essa elipse foi tão copiado que hoje só dá pra utilizar a famosa "correção de cama pra lareira" de forma cômica, paródica.

Mas se olharmos sem preconceito e com criatividade, vamos perceber que por baixo do óbvio há coisas muito boas para serem devidamente aproveitadas. As pessoas geralmente torcem o nariz para o que aparentemente soa como óbvio, sem entender que é possível subverter o clichê, quebrando a expectativa do público. Pelo menos é o que eu tento fazer, nos meus roteiros. E que faço em relação ao bacalhau.

Contando com a espectativa que o bacalhau cria, uso a base do Zé do Pipo e surpreendo a todos com um bacalhau gratinado que aparentemente parece o Zé do Pipo, mas que é bem diferente e na minha opinião, muito mais saboroso.

Já estão salivando? Bem, vamos à receita. É bem simples, não tem como errar.

Os ingredientes:


Dependendo da quantidade de pessoas, o ideal é um quilo e meio de bacalhau. Se preferir, e se estiver com bala na agulha, compre logo apenas o lombo do bacalhau, que é na verdade a parte que vale a pena comer.

Cebola e alho, em grande quantidade. As cebolas devem ser cortadas de duas formas: picadas pra refogar o bacalhau e em rodelas, para depois ir montando o prato. Então, não economize na cebola.

Batatas... meio quilo das grandes.

Creme de leite... dependendo da quantidade de bacalhau ( pensando no quilo e meio), umas 4 latas.

Pimenta do reino

Queijo ralado

Sal.

Azeite, muito azeite. E de preferência, extra virgem.


Primeiramente, deixe o bacalhau cortado de molho em água fria por 24 horas, trocando a água de tres em tres horas. Depois cozinhe por 20, 30 minutos. Desfie o bacalhau ( cuidado com as espinhas! ) e separe.

Corte e cozinhe batatas em rodelas mais ou menos compridas e finas.

Doure a cebola e o alho picado em azeite e coloque o bacalhau desfiado para refogar. Tempere com pimenta e algum sal ( é bom provar o bacalhau antes de refogar pra saber se ele ficou pouco ou suficientemente salgado, após as de 24 horas molho. Dependendo, coloque a quantidade de sal que seu paladar aprovar, com devido cuidado, pois se tem uma coisa ruim é bacalhau sem sal, mas pior ainda é bacalhau excessivamente salgado ).

Refogado o bacalhau e cozida as batatas, vamos armar o prato.


Pegue uma travessa que vá ao forno e despeje uma boa quantidade de azeite. Coloque uma camada de batatas, fazendo uma "cama". Depois coloque uma porção de bacalhau desfiado sobre essa "cama" de batatas. Coloque rodelas de cebola sobre o bacalhau, azeite e despeje uma lata de creme de leite. Feito isso, arme uma nova camada de batatas, mais bacalhau, cebolas, etc. Repita o processo até atingir a borda do refratável. Não esqueça de colocar azeite a cada camada. Polvilhe com queijo ralado e leve ao forno para gratinar. Estado o forno razoavelmente aquecido, o bacalhau gratina em 20, 25 minutos.


Um quilo e meio de bacalhau geralmente dá pra fazer uma travessa grande e uma pequena. O que é bom, pois enquanto seus amigos estão se deliciando com a primeira fornada, dá tempo suficiente de gratinar a segunda travessa, e quando todos pensam que o bacalhau acabou, eis que vc surge da cozinha com um repeteco.
É servir e correr pra pros aplausos.

Um comentário:

Anônimo disse...

este prato realmente éééééé uma
deeeeeelicia .
o sogro de minha irmã fez uma pequena modificacão,na parte da batatas ele fez um purê no capricho e fez um creme de esprinafre o prato que ja era ótimo ficou pra lá de ótimo.
nao sei se era o mesmo prato mais foi o nome que ele deu .
parabéns