sábado, 29 de dezembro de 2007

Quem são nossos ídolos?

Quase no finzinho das aulas na Darcy, meu aluno Renato perguntou:


"- Quem são os ídolos de um roteirista? Os alunos de direção geralmente têm seus cineastas prediletos, são fãs de Bergman, de Buñuel, do Glauber, de Woody Allen, do Godard, do Orson Welles, do Tarantino, etc. Um roteirista ou um aspirante à roteirista também tem seus ídolos?"

Renato é um bom aluno, pernambucano sério, dedicado, mas a primeira coisa que me passou pela cabeça foi "aluno de roteiro tem cada uma, isso é pergunta que se faça..." Depois, pensei em responder, parafraseando Bretch: "infeliz do roteirista que precisa de ídolos". Mas acabei ponderando que a pergunta do Renato merecia uma resposta mais concreta ( e menos pedante ).


Admiramos e mesmo emulamos esses e outros cineastas por conta de sua obra, dos filmes que realizaram. E ainda que um filme seja uma obra criada pelo somatório de diversos talentos, em última instância, é o diretor o maior responsável por ela, é o seu autor. Claro que meu raciocínio está completamente alinhado com a teoria do autor (o que talvez me crie problemas com meus colegas roteiristas). Para o bem e para o mal, o filme é a expressão artística do seu diretor. Daí admirarmos a obra de um Buñuel, de um Fellini, do John Huston, do Nelson Pereira dos Santos, do Ruy Guerra, pois seus filmes são a expressão de seu talento e sua personalidade.


Mas sabemos que os filmes são obras coletivas.


E que os filmes de Bergman são excelentes, além de seu gênio criador incomparável, mas também pela fotografia de Sven Nykvist, pelas atuações de atores soberbos como Max von Sydow, de Liv Ulmman, de Erland Josephson, de Harriet Anderson, de Ingrid Thulin, de Bibi Anderson, entre outros. No caso de Bergman ( e no da maioria dos cineastas citados anteriormente ), ele também é o autor do roteiro de seus filmes, o que torna a sua obra ainda mais pessoal.

Alguns dos maiores cineastas são autores dos seus roteiros. Por outro lado, alguns cineastas também são roteiristas. Esssa é uma diferença fundamental.

Entendo que, antes de mais nada, escrever roteiros é um trabalho. O diretor que escreve, escreve para si. Escrever faz parte do seu processo de criação como diretor.

O roteirista é aquele que escreve filmes para terceiros: sejam diretores ou produtores.


John Huston por exemplo, foi roteirista antes de virar diretor, tendo escrito roteiros de filmes como Jezebel ( de Willian Wyler), Sargento York (de Howard Hawks) , Seu último refúgio, Os assassinos, O Estranho ( para seu amigo Orson Welles).

Escreveu boa parte ou pelo menos a maioria dos roteiros de seus filmes. Mas não de todos. Nem por isso, os filmes em que contratou um roteirista para escrever para ele ( ou com ele ) são menos pessoais e autorais.


Martin Scorsese nunca escreveu um roteiro. Já Coppola era roteirista antes de tornar-se diretor ( ganhou o Oscar de melhor roteiro com Patton, que foi dirigido por Franklin Schaffner), da mesma forma que Billy Wilder, Oliver Stone, o nosso Jorge Durán aqui no Brasil. E há também caso de roteiristas que dirigiram filmes, como Dalton Trumbo, bons filmes, inclusive, sem nunca terem deixado de ser roteiristas.

Outra coisa importante a ser considerada. Da mesma forma que o filme, o roteiro também é uma obra coletiva. Muitos dos melhores roteiros foram escritos por dois, três autores, às vezes por uma equipe inteira. E isso não se aplica apenas a filmes chamados "comerciais". Crime delicado, filme de Beto Brant, uma obra extremamente autoral, foi escrito por quase um time de futebol de salão. Roteiristas de diferentes personalidades e estilos as vezes colaboram num mesmo roteiro, e nem por isso ele perde a sua unidade, a sua força dramatúrgica, o seu papel no filme.

Então, antes de elegermos ídolos a quem reverenciar, o importante é ter alguns roteiristas como referências para cotejar seu trabalho, de forma a nos ajudar a escrever melhor. Apresento aqui uma lista de roteiristas notáveis. São artistas de diferentes épocas, origens e estilos, cujo trabalho deve ser fruto de estudo e análise, nunca de cópia.

Ah, Renato, é uma lista pra calar a boca de qualquer aluno de direção esnobe, hehehe...


(continua)

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