domingo, 6 de janeiro de 2008

coisas que eu gosto ( de ouvir ) 7:


Nervos de aço, de Paulinho da Viola (1973).

Sou fã do Paulinho da Viola. Minha admiração por ele começou de criança, meu pai tinha todos os discos dele, e desde sempre escutei suas canções. Morávamos em Jacarepaguá e naquele tempo, quem vivia em Jacarepaguá não tinha jeito, ou era Portela ou Império Serrano. Lá em casa, éramos Império, o que não nos impedia de admirar aquele que, à epoca, era a mais perfeita tradução da azul e branco de Madureira.
Seu samba, Foi um rio que passou na minha vida, declaração de amor à Portela, sempre foi uma das minhas músicas prediletas. Tenho quase todos os discos dele ( tenho uma razoável discoteca, com mais de 600 cds, e a coleção de Paulinho só perde para a de Bob Dylan, a do Chico Buarque, do Caetano e, claro, do The Clash, do qual tenho todos - o que é razoavelmente fácil, uma vez que o Clash só lançou sete discos, afora duas coletâneas ).
Mas de todos os discos do Paulinho, Nervos de Aço é o meu predileto.
A música de Paulinho não é exatamente eufórica - antes, é melancólica e intimista. Herdeiro direto do grande Zé Ketti ( qualquer dia publico um comentário sobre ele, de quem gosto muito também) , Paulinho une modernidade e tradição, experimentando e explorando até o limite as possibilidades criativas e musicais do samba, sem nunca esquecer seus mestres diretos, o já citado Zé Ketti e Wilson Batista.
Criado em rodas de choro, foi ali, mais do que na quadra das escolas de samba ou nos terreiros de fundo de quintal, que encontrou os acordes delicados que utilizaria na sua refinada engenharia sonora. Seu samba é um samba triste, com melodias e letras sofisticadas ( vide Sinal Fechado ou a Dança da Solidão ), algo nostálgica, sempre elegante. Isso não significa que não tenha grandes e efervescentes canções como a já citada Foi um Rio..., Lapa em 3 tempos ( mais conhecida como "Abre a janela formosa mulher", verso de abertura do samba, que na verdade é uma citação ao samba "Abre a janela" de Arlindo Marques Jr. e Roberto Roberti, grande sucesso de Orlando Silva), Guardei minha viola, Pode guardar as panelas, BebadoSamba, Coração Leviano, etc.
Neste "Nervos de aço" estão presentes as principais características da música de Paulinho da Viola: a sofisticação, a melancolia, o choro, o experimentalismo, a tradição. Esta representada não só pela canção que dá nome ao disco, o belo samba de Lupiscínio Rodrigues, pela maravilhosa Não quero mais amar a ninguém, de Cartola, Carlos Cachaça e Zé da Zilda e pelo clássico Nega Luzia, do mestre Wilson Batista.
Já o experimentalismo, que atravessa o disco inteiro, com arranjos elaborados ( quase jazzísticos, ousaria a dizer, quase heréticamente ) se faz presente em Roendo as unhas e Comprimido, que aliás, é a faixa que mais gosto em todo o disco ( se é que é possível ter apenas uma predileta num disco que do começo ao fim só tem grandes momentos ). Há destacar ainda Sentimentos e a empolgante Não leve a mal, sambão dançante que é mais uma declaração de amor à Portela.
Não bastasse a música, o disco tem também uma das mais belas capas de toda a discografia brasileira, assinada por Elifas Andreatto, que durante muito tempo foi o designer dos discos dos sambistas brasileiros, como Paulinho, Martinho da Vila, etc. O trabalho de Andreatto é irrepreensível, cada capa dele era uma obra de arte que lamentávelmente se perdeu no formato CD.
Nervos de Aço é um disco irrepreensível, uma obra prima da música brasileira. Quem não conhece a obra de Paulinho da Viola, se é que exista esse alguém, pode começar sem erro por este disco, que é uma espécie de síntese de sua música.
Depois é só ir comprando os outros...

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei do que gosta de ouvir, só que a tempos procuro esta bela música e não consigo achá-la, Lapa em 3 tempos, você a teria!?
Obrigada.
Daniele Pereira
daniele_sprj@hotmail.com