terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Quem são nossos ídolos? - a lista (2)

Dos grandes roteiristas que devemos tomar como referência há um que durante muito tempo foi uma espécie de "meu guru": Cesare Zavattini.

Escritor, poeta, teórico do cinema, professor, diretor e um dos ideólogos do "neo-realismo italiano". Sua parceria com Vittorio de Sica ( à direita, na foto ) produziu alguns dos melhores e mais tocantes filmes de todos os tempos. Ladrões de bicicleta, Umberto D, Milagre em Milão, ícones do movimento cinematográfico italiano que inverteu a lógica do cinema-espetáculo e que até hoje inspira cineastas do mundo inteiro.

Zavattini era um humanista e seu cinema visava trazer para as telas o homem comum, o operário, pessoas simples das quais os pequenos sofrimentos e alegrias eram a matéria-prima para uma nova dramaturgia.

Para ele, o grande filme seria aquele que registrasse, sem alardes ou truques narrativos, o dia na vida de um homem comum, insignificante até.

Quando o neo-realismo começa a perder sua força, ao final dos anos 50, Zavattini escreveu roteiros mais convencionais, e sempre com seu parceiro de Sica fez Duas Mulheres ( La Ciociara, baseado em romance de Alberto Moravia ), Ontem, Hoje e Amanhã ( onde há a famosa cena do streap-tease de Sophia Loren para um aparvalhado Marcelo Mastroianni, cena que seria repetida quase na integra, pelos mesmos atores, 40 anos, por Robert Altman em Pret-à-porter ), o Jardim dos Finzi-Contini, Os girassóis da Rússia.


Além de de Sica, Zavattini trabalhou com Visconti em "Belissíma" e com Antonioni, para quem escreveu um dos episódios do filme O Amor na cidade.

Nos últimos anos de vida, Zavattini deu aulas de cinema em Cuba.


Já falei muito sobre ele, em postagens recentes, mas sempre é bom citar Dalton Trumbo.

O roteirista, romancista e cineasta americano, que foi colocado na lista negra por conta do maccartismo e que foi obrigado a escrever sob pseudônimos e, mesmo, com "testas de ferro", é um dos maiores roteiristas de todos os tempos.

São de sua autoria roteiros de Spartacus ( de Stanley Kubrick ), A princesa e o plebeu ( de Willian Wyller ), The Fixer ( creio que em português o filme se chama "O homem de Kiev", de John Frankenheimer ), "O último pôr do sol"( western de Robert Aldrich ), Pappillon (de Franklin Schaffner), Exodus ( de Otto Preminger ), Adeus às ilusões ( de Vicent Minelli ).

Recebeu dois Oscars ( por The brave one e por A princesa e o plebeu), porém como estava na lista negra, não pode recebê-los. O oscar por The Brave One lhe foi entregue, pouco meses antes de sua morte, em 1976. O segundo foi entregue póstumamente, já nos anos 90.


Citei dois roteiristas que eram homens de esquerda. Mudando radicalmente o espectro político e também, de sexo, nenhuma lista de grandes roteiristas estaria completa sem o nome de Thea Von Harbou.

Atriz, romancista, roteirista, também diretora, foi esposa e parceira do grande Fritz Lang. Juntos escreveram A morte cansada, Dr. Mabuse - O império do crime, Os Nibelungos, Dr. Mabuse- o jogador, Metrópolis, M - o vampiro de Dusseldorf, Espiões, O testamento do Dr. Mabuse.

Também escreveu roteiros para Murnau e para Carl T. Dreyer.

Thea era filiada ao Partido Nazista. Quando Hitler ascendeu ao poder ( por voto direto e democrático, nunca esqueçam isso ), Goebbels, ministro de Propaganda do governo nazista, admirador do cinema de Lang, quis torná-lo o cineasta oficial do nazismo. Lang que, ao contrário da esposa, não nutria nenhuma simpatia pelos nazistas, fugiu da Alemanha e depois de uma breve temporada na França, foi para os Estados Unidos, onde seguiu sua carreira fazendo filmes em Hollywood. Thea ficou na Alemanha, onde continuou escrevendo e mesmo, dirigindo filmes. Ao final da guerra, foi presa e já na democratização pós guerra, voltou a trabalhar em cinema, até morrer, no final dos anos 50.


Independente da sua posição política, é uma grande roteirista. Considero M, O vampiro de Dusseldorf um dos mais perfeitos roteiros já escritos. Uma aula de narrativa cinematográfica (ver postagem referente ao filme ).

Thea merece figurar numa lista dos melhores. E justiça seja feita, não é a única roteirista "de direita" - talvez a única sabidamente de extrema direita. Mas seu trabalho é exemplar.




(continua)

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