terça-feira, 31 de julho de 2007

Adeus, Antonioni



Literalmente esbarrei em Antonioni, quando ele esteve no Brasil, por ocasião de uma homenagem no Festival de Gramado. Foi em 93 ou 94, não me lembro bem. Ele já havia sofrido o derrame que o havia deixado bastante debilitado, semi-paralisado e quase mudo ( se comunicava com pequenos gestos e através de sussurros, que sua esposa traduzia ).

Eu estava no saguão do Palácio dos Festivais, fumando um charuto, quando ele entrou, apoiado em sua esposa. No que ele entrou, uma turba de fotógrafos e cinegrafistas avançou sobre ele, empurrando tudo o que estivesse pela frente. Eu, inclusive.

Arrastado por esse tsunami de paparazzi, acabei ficando, por uns breves minutos lado a lado com o mestre. Acho que até pisei no pé dele, olha que mico. Arranhei um "pardon", e ele sorriu, generoso. Rapidamente me afastei dele, antes que fosse alvejado por algum fotógrafo mais impaciente com aquele involuntário "papagaio de pirata".

Fiquei ali no canto, olhando aquele homem frágil, debilitado, trêmulo pela doença, mas que irradiava uma altivez de gigante. Ele acenou para os fotógrafos e cinegrafistas, a mão erguida tremia. Vi essa foto ( deve ser das filmagens de Passageiro:profissão repórter, ali ao lado dele está a sumida Maria Schneider, que fim levou essa linda atriz? ), sua mão igualmente erguida, e me lembrei dessa história.

Ficam seus belos filmes. Qualquer dia falo sobre algum deles. Talvez do "Passageiro", talvez "Blow Up".

Um comentário:

Henrique Crespo disse...

Logo lembrei de Blow Up na aula.
Um grande filme, melhor ainda que o Profissão Reporter.