terça-feira, 3 de julho de 2007

JJ


José Joffily, também conhecido como Zé.



Meu parceiro mais constante: escrevi para ( e com ) ele "A Maldição do Sanpaku", "Quem Matou Pixote?", "Dois Perdidos Numa Noite Suja", "Achados e Perdidos" e o seu atual projeto, "Olhos Azuis", que será rodado em setembro. Sem contar aqueles projetos que jamais saíram do papel, muitos mais numerosos.

É uma parceria que já adquiriu ares de cumplicidade há muito tempo. E bota tempo nisso: nos conhecemos desde 1981.

JJ foi meu professor na UFF. Engraçado que ele dava aulas de fotografia, mas nem eu nem ele estavamos muito interessados nisso. Da mesma forma que eu, naquela época o Joffilly - que era um diretor de fotografia em ascensão - estava decidido a virar roteirista profissional, de modo que ao invés de falarmos sobre filtros, lentes, etc, conversavamos sobre dramaturgia, narrativas, histórias que poderiam virar filmes.

Foi para ele que mostrei meu primeiro roteiro. Chamava-se "Pathé Baby - nos tempos do cinematógrapho". Que eu me lembre, era um roteiro visivelmente chupado de "Nos tempos do Ragtime", do Milos Forman, e mostrava um ficctício pioneiro do cinema brasileiro na década de 10 que, movido a dar "facadas" em industriais, fazendo filmes de propaganda de suas empresas, acabava conhecendo a exploração a que eram ( eram? ) submetidos os trabalhadores brasileiros naqueles primeiros anos do século XX. Obviamente havia a crise de consciência do cineasta, dividido entre os interesses financeiros ( com a grana dos empresários iria rodar seu primeiro filme "sério" ) e a solidariedade com os trabalhadores.
O climax do roteiro era quando era deflagrada a greve ( a famosa greve de 1917 ) e o cineasta acabava tomando partido dos operários, e ia para a porta da fábrica, filmar a luta. Então chegava a polícia que saia descendo o cacete nos grevistas insurgentes e na confusão, a câmera do nosso herói era destruída. Ruim, né? Mas o Zé achou várias qualidades no roteiro. Tanto que depois, ele me indicou pra trabalhar com um cara que tava procurando um jovem roteirista pra trabalhar com ele. O tal cara era o Durán... (mas aí já é outra história... )

Nesses mais de 25 anos de convívio, passamos por bons e maus momentos. Mas essa alternância de sucessos e fiascos (se é que se pode chamar de fiasco algo que sequer conseguiu virar filme... ) consolidou nossa parceria e, principalmente, nossa amizade.

Trabalhar com o JJ é muito prazeroso, não somente por ele ser uma das pessoas mais engraçadas ( voluntária e involuntariamente ) que conheço, mas principalmente porque ele me dá muita liberdade pra escrever e confia bastante nas minhas propostas, às vezes bastante arriscadas, como transformar o Paco de Plínio Marcos ( de Dois perdidos numa noite suja" ) em mulher ou "limar" o detetive Spinoza, protagonista dos livros policiais de Luiz Alfredo Garcia-Roza da adaptação que fizemos de "Achados e Perdidos".

JJ também foi ator em alguns dos meus curtas, sendo que sua participação em Bela e Galhofeira ( 1997 ) é simplesmente impagável.

Não é segredo para ninguém que considero o roteiro de Dois Perdidos Numa Noite Suja o meu melhor trabalho em cinema. Ganhei o prêmio de melhor roteiro no Festival de Brasília com esse trabalho. Mais recentemente, a adaptação de Achados e Perdidos foi premiada pela Academia Brasileira de Letras como melhor roteiro adaptado. Ou seja, além de tudo, trabalhar com o Zé dá sorte (já dinheiro... hummm, melhor não falarmos sobre isso ) .

Poderia tê-lo colocado na condição de mestre, ao lado do Duranzinho. Mas apesar dele ter me ensinado um monte de coisas, JJ não leva muito jeito para guru ou mentor de ninguém.
Ao contrário, e essa é uma de suas maiores qualidades como pessoa e cineasta, ele faz mais o gênero "eterno aprendiz". Nunca se coloca numa posição de superioridade, nem reivindica nenhuma ascendência. Se coloca sempre numa posição de igualdade, de parceiro mesmo. Penso que daí surge o seu inegável carisma que faz todo mundo gostar de trabalhar com ele.

Eu particularmente gosto muito.

Um comentário:

Unknown disse...

essa idéia do filme durante a idade de ouro do cinema brasileiro é muito boa. excelente para discutir nossas questões de hoje, ainda mais com a greve de 17... claro que o final podia melhorar mesmo, mas gostei.

abração
bv